Belo Horizonte se prepara para Festa do Beato Padre Eustáquio

Há 67 anos, milhares de fiéis se deslocam do interior de Minas e de outros estados para reverenciar, em Belo Horizonte, o Beato Padre Eustáquio, que se tornou símbolo de fé ao longo da sua atuação, promovendo curas e distribuindo bênçãos pelos vários lugares por onde passou. E mais do que isso, se tornou símbolo da presença de Deus, da paz e da devoção dos católicos. Quem cruzava seu caminho era sempre saudado com a frase “Saúde e Paz”. Em 2010 completa-se quatro anos da beatificação. Muitas atividades estão programadas não só na capital mineira, mas em outras cidades brasileiras onde Padre Eustáquio também morou.


As celebrações têm início em 21 de agosto com a novena na Paróquia dos Sagrados Corações, conhecida como Igreja de Padre Eustáquio, no bairro de mesmo nome. A novena vai reunir os fiéis diariamente até o dia 30 de agosto, sempre com celebrações de padres da própria paróquia ou de convidados de outras cidades. Todos os meses, no dia 30, os devotos celebram Padre Eustáquio, mas 30 de agosto, data de sua morte, é especial.

Familiares e amigos do Padre Eustáquio, além do Padre Postulador Geral do processo de beatificação, Alfred Bell, de Roma, virão da Holanda, país onde nasceu o Beato, para participar das celebrações e entregar oficialmente à Congregação no Brasil relíquias que pertenceram a ele. Duas relíquias serão doadas às paróquias de Romaria e Poá, onde Padre Eustáquio trabalhou por muitos anos. As outras relíquias, que se encontram num relicário de madeira trabalhada, serão entregues ao vice-postulador e também Superior da Congregação no Brasil, padre Vinícius Maciel ss.cc, em Belo Horizonte.

Em Poá, um antigo casarão construído pelo Beato Padre Eustáquio foi restaurado e vai abrigar um museu que será inaugurado esse mês em homenagem a ele. Já no Triângulo Mineiro, em Romaria, será inaugurado um memorial, que tem o objetivo de resgatar a vida e a obra de Padre Eustáquio.

Outras atividades farão parte da festa do Beato Padre Eustáquio. No dia 29 de agosto, será realizada, durante a novena, uma procissão que vai contar com a participação de fiéis a pé, de carro e com vários grupos de motoqueiros que são devotos dele. A procissão, que deve durar cerca de 40 minutos, sairá da Paróquia de Padre Eustáquio, após a missa das 15h celebrada por Padre Lúcio Dumont Prados, sscc, e se dirigirá à Paróquia de Cristo Rei, onde Padre Eustáquio trabalhou. No encerramento da novena, às 19h30, haverá celebração do cardeal D. Serafim Fernandes de Araújo.

No dia 30 de agosto, data da morte de Padre Eustáquio e que se transformou em dia de peregrinação para a comunidade católica, haverá celebração de missa de duas em duas horas na Paróquia de Padre Eustáquio, a partir das 6 h da manhã. Durante todo o dia, estará aberta a visitação ao túmulo do Beato. A missa das 8 h será celebrada pelo Arcebispo Metropolitano de Vitória, Dom Luiz Marcilha Villa, sscc. E às 20h, a missa celebrada por D. Walmor Oliveira de Azevedo, Arcebispo Metropolitano de Belo Horizonte, encerra as comemorações do dia.

Mas a programação continua no dia seguinte, 31 de agosto, quando a família de Padre Eustáquio recebe o Diploma de Honra ao Mérito “In Memoriam”, na Câmara Municipal de Belo Horizonte, por iniciativa do vereador Sérgio Fernando (PHS). Na ocasião, quadros cuja temática é o Beato serão expostos na Câmara.

Os passos de Padre Eustáquio
Da criança nascida na Holanda ao Bem-aveenturado, conhecido, louvado e respeitado em todo o Brasil, haveria uma longa caminhada missionária. A trajetória de Padre Eustáquio pode ser dividida em três grandes fases: família, formação e missão apostólica.

A vida em família
Padre Eustáquio nasceu em 3 de novembro de 1890, em Aarle Rixtel, lugar pertencente à comunidade de Brabante, no sul da Holanda. Seus pais, que eram cristãos dedicados, o educaram junto com seus onze irmãos. O pai era um homem do campo, muito religioso e perseverante. A mãe se dedicava aos filhos, era bondosa e solidária com o sofrimento dos outros. O ambiente familiar era propício para o desenvolvimento das virtudes do Servo de Deus. A fé inabalável e a confiança na bondade da Providência divina faziam parte da rotina não só da família, mas de toda a comunidade de Brabante.

A formação
Padre Eustáquio desenvolveu-se um rapaz generoso e piedoso e, ao conhecer a biografia do missionário São Damião de Molokai, apóstolo da caridade cristã entre os leprosos no Havaí, quis ser missionário como ele. Ingressou no Seminário de Padres dos Sagrados Corações. Apesar da grande dificuldade em seus estudos, com esforço, força de vontade e persistência conseguiu vencer.

A Vida apostólico-missionária
Padre Eustáquio foi um dos três primeiros religiosos da Congregação dos Sagrados Corações que chegaram ao Brasil. Em 1925 veio como missionário juntamente com outros dois companheiros e foram convidados pelo então bispo de Uberaba em Minas Gerais, Dom Antônio de Almeida Lustosa para irem para sua diocese. Na cidade mineira de Água Suja, foi fundada a primeira casa dos Sagrados Corações no Brasil, onde assumiram o Santuário de Nossa Senhora da Abadia.

Em 1926, Padre Eustáquio se tornou o vigário de três paróquias que tinham várias capelas anexas: Iraí de Minas, Indianópolis e Romaria. Após dez anos no Triângulo Mineiro foi transferido para Poá, em São Paulo.

Passou a ser conhecido como “Vigário de Poá” depois que suas bênçãos a enfermos e casos de conversão criaram fama e projetaram seu nome pelo estado de São Paulo e pelo Brasil. Muita gente começou a procurá-lo ao ter notícias das curas do “santo” Padre Eustáquio. Milhares de pessoas se juntavam nas ruas de Poá atrás do padre, que procurava sempre atender a todos.

Em maio de 1941, Padre Eustáquio teve que ser transferido, já que a situação estava insustentável em Poá, em vista do grande número de fiéis que afluíam ao lugar em busca das bênçãos do religioso. Passou por várias cidades antes de ser empossado, em sete de abril de 1942, vigário da Paróquia de São Domingos, da Congregação dos Sagrados Corações, em Belo Horizonte. Seguindo ordens superiores, só poderia atender as pessoas que não eram da paróquia no confessionário, em número reduzido e em horários fixos. Na capital mineira, a pedido do bispo, realizou várias atividades, tais como retiros, conferências e confissões em outras paróquias, inclusive em cidades do interior.

Dedicou-se ao atendimento espiritual, que provocou muitas conversões e à cura dos doentes, que eram sempre saudados por ele com a frase “Saúde e Paz”. Tinha pouco para preocupar-se com a própria saúde. Foi picado por um inseto e adoeceu gravemente. Contraiu tifo, doença para a qual não havia tratamento adequando na época. Por três dias Padre Eustáquio sofreu horrivelmente, mas nunca se queixou. Em 30 de agosto de 1943, faleceu com 52 anos.

Na véspera de sua morte renovou os votos como religioso dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, em cujo serviço prometera viver e morrer. As últimas palavras de Padre Eustáquio foram para o amigo e superior: “Padre Gil! Deo Gratias!”

Várias graças são atribuídas a Padre Eustáquio, mas a que foi reconhecida pela Igreja como milagre e que levou à sua beatificação aconteceu em 1962, em Belo Horizonte, em favor do Padre Gonçalo Belém, que foi curado de um câncer na laringe em decorrência apenas de preces a Padre Eustáquio. Em cinco de fevereiro de 1956 começaram os trabalhos para o processo de beatificação de Padre Eustáquio. O processo de beatificação foi concluído em 15 de junho de 2006 na solenidade da Festa de Corpus Christi no Mineirinho em Belo Horizonte, quando o delegado do Papa, Cardeal Saraiva Martins, declarou oficialmente Padre Eustáquio Beato. A beatificação foi realizada em conjunto com a Festa da 12ª. Torcida de Deus. Em 2007 foi inaugurado o memorial construído em sua homenagem, ao lado da Igreja, para onde foram trasladados os seus restos mortais, em cerimônia presidida por Dom Aloísio Vitral, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de BH.

Fonte: Jornal Web Minas